29.9.13

Hora do faz de conta na casa dos segredos

Depois da vigilância às urnas, onde todos cumpriram a função (uns com ar de pedintes, outros com cara de embaraço, alguns, os habitués, com aura de conquistadores), na sala de reuniões da casa dos segredos juntam-se os concorrentes para a análise dos resultados. O momento da verdade está para chegar. É a hora do faz de conta. Ou do ajuste de contas...

Ora então, vamos lá às previsões - diz o chefe, eu aposto no 5 a 2…

- Ai isso é que era, diz o acólito n.º 2. Assim tínhamos o futuro garantido. Quem é que ia ligar à confusão das contas, ao PAEL?

Está a falar de quê? Fale na sua vez e quando chegar a sua vez, cala-se, ouviu? Bem basta as confusões que me tem arranjado... “a câmara enquanto candidata às eleições…” onde já se ouviu tamanha barbaridade. Nem eu com a minhas tiradas maoistas consegui ser tão gozado. Não fossem as inaugurações e queria ver onde íamos parar. E aquela, à última da hora, que nem ficou totalmente pronta, mas enfim… tive que lhe chamar visionário mas acabou por fazer um bom trabalho. Foi pena aquela traiçãozita…  
Mas qual é essa de ter o futuro garantido? Ah, o quinto?  É certinho. Até já pensei incluir nas futuras ordens de trabalho um ponto para o nosso 5 contar anedotas e entreter o público. Tome nota desta minha ideia, cara amiga. Ah você não fica?! Então quem me passa a escrever os discursos? Mesmo assim, anote para o dossier que vai passar ao seu sucessor. Que isto não pode ser como nas swaps. Quero tudo alinhadinho. Como a nossa fanfarra com as majoretes. E como  é, número 7, tudo pronto para a festa? Bombos, gaitas, balões e foguetes...? O palco já vi que está montado. Cavalos não, é melhor não meter os cavalos…  com um tempo destes e as ruas como rios ainda se afogavam … Por falar nisso, acorremos a tudo? Ninguém reclamou dos serviços? É para isso, que nós cá estamos. Podemos não prevenir, mas quando se trata de remediar, entramos nós para entusiasmar o povo…
Mas diga lá qual é a sua previsão?

 - Eu até me atrevia a sonhar com o 6 a 1.

Você cala-se, número 9, aqui os suplentes só entram quando eu mandar. E não sabe que dá azar sonhar tão alto? Daqui a pouco também estava a fazer força para entrar!… Ora, se metermos 5 eles já têm que nos roubar 2 para terem maioria. E com seis ficávamos sem oportunidade de gozar com a cara do vira-casaca… Por falar nisso, quem é o sexto?

- É a advogada, camarada. Desta vez os advogados são mais que as mães…

Primeiro, trate-me por presidente, se faz favor.  Depois, sempre lhe digo, que todos vão ser poucos para nos livrar das alhadas em que estamos metidos. Preferia antes professores de ginástica? Esses ainda fazem mais cagada e cabriolas que os cavalos.
E se quer a minha opinião até acho que a 6 até merecia ser eleita. Discreta e eficiente… Então não havia de conhecer?! Desta vez escolhi-os eu, a dedo para não azo a confusões… Prefiro-os ignaros do que chico-espertos. Sim, ignaros, nunca ouviu? Então escreva para não se esquecer. E ressabiados, já ouviu? Esses são os que mudaram para a outra lista. Já agora assente os nomes na lista negra, não se esqueça.
Continuando… Não pergunto à senhora, porque nisto de futebóis as mulheres não têm grande opinião, não é verdade, número 3?

- Pelo contrário, eu até gosto de um bom jogo de bola. A minha agenda é que não me permite tirar as tardes de domingo…

A sua agenda não lhe permite? Isto é serviço público. Vamos para onde temos que ir. Quantas vezes eu não tive que comparecer com os olhos como bugalhos. E aturar aqueles pedinchões, ainda por cima!… Digo-lhes sempre que sim e depois logo se vê. Assim se constroem grandes vitórias.
E desta vez a vitória será minha, só minha e não vai ser preciso ninguém para me sussurrar as palavras ao ouvido. Guri, estás dispensado! Até podes ir jogar sueca para o café.

Noutro quarto da casa, o assunto em discussão é o mesmo, as opiniões é que são um pouquinho diferentes. E a conversa é mais formal.

- Então que me diz? Sempre há ventos de mudança a soprar do lado de Santa Eulália” - pergunta o número 1.

É que não tenha dúvidas. Só se não houver coerência…Vamos ganhar e virar a página…tal como o CCD que se prepara para se afirmar como o maior clube do concelho… Não é para me gabar, mas a obra é toda minha, responde o n.º 2.

-Que obra? Ah sim, pois…Mas não acha que foi arriscado votar contra os subsídios?

Acha?! Onde já se viu conceder subsídios para pagar jantares?! O lacaio que se amanhe… que crave a massa aos amigos…. E depois, nem 1 euro para o meu clube?! Isso era impensável, presidente.

-Não me chame presidente que me desvaloriza. Mas não acha que as vezes é preciso alguma flexibilidade?

Nem pensar! Verticalidade e coerência, é que é! E afirmá-lo em público quanto mais vezes melhor. Soa bem e pouca gente sabe o que isso é.

-E as juntas?

As juntas? Nós estamos  falar de coisas mais importantes… Isto não é o distrital. Nós estamos na champions, presidente, como diz o Jesus.

-Já lhe disse para não me rebaixar… chame-me chefe ou doutor, se quiser…

Mas diga-me, não acha que a estratégia resultou? Chumbamos tudo e enganámo-los com a proposta de apresentar uma contraproposta…  Eles fiados e ficou toda a gente a ver navios. Nem um chavo para ninguém. Que paguem primeiro o que me devem senão como é que eu vou cumprir os compromissos?  Não posso contar com o porto na taça todos os anos…

-Se assim o diz…

Claro que digo. E com a carreira regular de autocarros que está prometida, encho o campo todos os fins de semana.

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E agora, quem ficará por cima? Quem rirá no fim? Quem abandona a casa? Quem fica? Quem entra de novo?



A Clarinha promete ir dando conta do “evoluir da situação” (como gostam de dizer os comentadores destas coisas)...

9.9.13

Uma campanha amorfa

O facto da Clarinha ter andado tão calada não se deveu à falta de assunto, antes a um gesto solidário com os políticos locais.. Como aqueles, os ditos cujos, mandaram a política às favas, e foram molhar os pezinhos para outras águas mais límpidas que a da nossa praia fluvial, a Clarinha respeitou a trégua e manteve o silêncio. E a segunda quinzena do querido mês de Agosto foi um sossego. 

A excepção eram as publicações facebookianas  do PS, que desfiavam, em mosaico, os encantos da terra transfigurada pelos méritos da governação socialista. Certo é, que ainda nem dois dias haviam passado sobre o meu último post em que reclamava da escuridão da zona ribeirinha, já o escriturário de serviço, vaidoso, anunciava: Marginal Ribeirinha de Vizela já esta Iluminada para que os Vizelenses possam desfrutar desta grande obra do Partido Socialista de Vizela.
Coincidências...
E propaganda? Admito que sim.
Mas esses foram mexendo. Nas teclas, pelo menos... A oposição, nem isso. Como se após a festa de apresentação, no Forum, satisfeita com os resultados, desse por concluída a campanha. Fala-se de umas reuniões para juntar ideias para o programa, convocam a imprensa de vez em quando só para aparecerem nos jornais e mostrarem que estão vivos… Mas deixem que lhes diga, para vivos mexem-se muito pouco. Andarão entretidos a elaborar o programa? Estarão a carregar baterias? A contar espingardas? Ou a disparar uns contra os outros?  É que desses hiatos de silêncio costuma sair asneira. Como, por exemplo, a renúncia do presidente em integrar as listas. Também, ver-se ultrapassado, tanto à esquerda como à direita, por tantos e tão maus concorrentes, não deve ser fácil de digerir. Ali houve gato (sem ofensa, Cidália)! 

Parece que o “Vizela é para todos” se está a transformar no “todos contra todos”. Lema que parece mais adequado ao método utilizado: vai um tiro na câmara, vai um tiro para o ar, vai outro tiro no pé. E não me admira que a campanha que se vai seguir, seja rija e apaixonadamente organizada para rematar num apoteótico discurso final, ao jeito de ”Obrigado pelo apoio, mas vejam lá, não nos lixem!... nós só queremos votos para eleger  2 ou 3 vereadores. A presidência não está nos nossos planos.”

Claro que ainda existe a CDU e o BE. Só que esses, coitadinhos, nem como contrapeso servem: se conseguirem obter a totalidade dos votos dos familiares próximos dos membros das listas, já conseguirão uma enorme vitória.  É duro, mas o mundo é cruel. Veja-se a diferença no tamanho dos outdoors. Para uns lençóis kingsize, para outros capas de livro de bolso. 

A vida não está fácil.  
Salvo para os partidos no poder. O PS, ou a câmara enquanto candidata às eleições– como se descaiu o Huguinho, nem vai precisar de se esforçar muito. Basta-lhes exibir o slogan "prometemos, cumprimos", e a conta-gotas, ir apresentando as obritas da praxe. E rezar, para que de algumas, ninguém se lembre de pedir o teste de ADN para comprovar a paternidade. E então, ele é o apoio social, o centro escolar, o complexo desportivo do CCD, o edifício sede, a loja social, a marginal ribeirinha, o minigolfe, a oficina domiciliária, o pavilhão municipal, as piscinas modelares… Ah, isto ainda não está feito?! Pois é, só chegaram à letra O. Começado por P só o PAEL?… Não importa, o pavilhão e as piscinas  servem de promessa para o próximo compromisso.

Assim como assim, não há necessidade de encadernar o futuro programa autárquico em 16 bonitas páginas, graficamente perfeitas; 4 são mais do que suficientes – e ainda ficará alguma coisa por cumprir.  Vão por mim.

25.8.13

Fiat lux!

Quem vai e atravessa a ponte
E corta para o Mourisco
Não vê a ponta de um corno…
- Podes voltar (tás perdoado!), doutor Francisco.

Esta bem podia ser a primeira quadra de outra versão da canção Porto Sentido, do Rui Veloso. Isto é claro, se ele gostasse de fazer o seu passeio ou jogging nocturno na pista de marcha e corrida da zona ribeirinha de Vizela. Podia, sei lá, chamá-la Vizela Ressentida, se por acaso ele se interessasse pela coisa. Mas como ele não canta, canto eu.

Esta autarquia tem, está-se mesmo a ver, graves problemas com a luz... eléctrica, mas não só. Haverá quem diga que não foram iluminados pela graça divina. Eu não vou tão longe. Digo que lhes falta energia, brilho e clarividência. Ou um farol que os guie.

Mas o problema já vem de longe...
Recapitulemos.

Em 18 de janeiro, noticiava o RV: a “Autarquia de Vizela reduz iluminação pública para metade”
Depois dava a palavra ao senhor presidente que se alongava em explicações, mas  garantia que “a criminalidade em Vizela também não irá aumentar”, e rematava: “Não temo nenhuma contestação e estamos aqui para resolver as situações que sejam pertinentes”.

Muito bem! Ficamos esclarecidos.

Porém, uma semana depois, o referido jornal, informava que “Dinis Costa recua nos cortes da iluminação pública”, confessando humildemente: “Faço um recuo, admito que dei um tiro no pé…” porque “segundo disse, “as pessoas têm razão””.

As pessoas, ou uma só pessoa?!!!

É que, avança a notícia, “Joaquim Meireles, presidente da Junta de Freguesia de Santa Eulália, já se tinha manifestado contra o corte na iluminação pública…” comparando-a com a cobrança das taxas de rampas, “outra das medidas que se confirmou como sendo anti-popular e que pode ter custado muito votos ao Partido Socialista.”

Ah! Assim está melhor. Agora ficamos perfeitamente elucidados! A autarquia podia até correr o risco de contribuir para o aumento da criminalidade, nunca para se expor a uma redução dramática dos votos no partido socialista.

Mas há mais.

No dia 9 de Junho no decorrer da Assembleia de Freguesia de Santo Adrião, António Costa, o presidente da junta, lamentava-se: “A iluminação deveria ter sido reposta a 28 de fevereiro. Estamos em junho e nada. Falei com o vereador Victor Hugo Salgado para me informar sobre o ponto de situação na altura em que iriam ter lugar as Festas da Senhora da Tocha e não me respondeu…”
E bem- digo eu. É que este não conta. Se perder votos, tanto melhor. As queixas dele caem na Câmara como num saco roto. E é bem feito – quem o manda fazer parte da lista da oposição?!

Resumindo e voltando ao ponto de partida: na zona ribeirinha, bem como na actual gestão camarária, há zonas muito escuras. Mas em contrapartida, há espaços que dá gosto ver, de tão brilhantes:  o court de ténis e a pista de petergolfe-a menina dos olhos da municipalidade- continuam iluminados toda a santa noite. 
Estará aí a razão porque  “o custo com a iluminação passou de 120 mil euros/ano para 400 mil euros/ano”?
Responda quem souber. A mim, apenas me compete, enquanto munícipe, desejar as melhoras ao nosso presidente - um tiro no pé ainda exige um tempo largo de recuperação. O que lhe vale é que a oposição não aperta muito. E o doutor Chico desistiu!…



O título é uma expressão latina, não o novo modelo dos automóveis de Turim. Quem se interessar que procure o significado.

6.8.13

Os vassalos do regime

Vassalo significa súbdito de um suserano. É um conceito próprio da Idade Média e está relacionado com o sistema de feudalismo. O vassalo era o indivíduo que pedia algum benefício a um nobre superior e em troca fazia um juramento de absoluta fidelidade. Os vassalos eram geralmente recompensados com um feudo que poderia ser terras, cargos, lugar num sistema de produção ou outros benefícios. Suserano é o nome atribuído àquele que doa o bem ou oferece proteção. Esse tipo de relação era conhecida como vassalagem.
O conceito de vassalo continuou a ser usado figurativamente para denominar o indivíduo submisso ou subordinado a algo ou alguém.
(www.significados.com.br)

Isto faz-vos lembrar alguma coisa?

A mim, confesso, veio-me à ideia quando dei uma vista de olhos ao renovado site do PS Vizela. No separador testemunhos, um rol de personalidades, ou lá como lhes queiram chamar, debitava, como num disco riscado, o slogan escolhido: Apoio Dinis Costa porque Vizela não pode parar. Acabei por não ir mais longe…. Isto já deve dar para uma crónica - pensei.

Certo é, que no referido site, desfila de tudo. Desde dirigentes do partido, regionais e locais, a médicos, actores, funcionários municipais, dirigentes de colectividades, empresários… 
Notei que há poucas mulheres a apoiar; ou foi falta de atenção da equipa ou o presidente está mesmo com a popularidade em baixo junto do eleitorado feminino.

E pensei, intrigada: será que os bem sucedidos têm voto de qualidade? Ou outras qualidades que os distingam e torne o seu apoio proveitoso? Sei (às vezes espreito a TVI), que certas figuras públicas, cantores, actores, desportistas, possuem uma espécie de aura e uma capacidade de atracção passíveis de histerizar multidões e mobilizar clubes de fans. Mas daí a fazer deles gurus…
Sei que a ostentação dos sinais exteriores de riqueza, impressiona o vulgo, é um óptimo cartão de visita e abre muitas portas; às vezes basta uns trapinhos de marca e um carrito bem artilhado para dar nas vistas, e dar a volta a cabeça a muita mulherzinha disposta a arriscar tudo por uma voltinha de cabelo ao vento. Mas daí a guias espirituais…

Até porque, por exemplo, a Clarinha pensa o contrário: não gosta de bonecos (ou bonecas), vaidosos e arrogantes, e por muita notoriedade que lhes reconheça, não acha que isso lhes outorgue qualquer ascendente, capacidade de persuasão ou espírito de liderança; mais (...ou menos!), quando a sua bagagem cultural se resume a conhecimentos vagos e sintéticos apreendidos nas selecções do reader’s digest, e nas conversas se limitam a discutir os casos dos penaltis do futebol nacional, os assuntos de trabalho, os lucros da bolsa, as memórias das últimas férias, ou as curvas da mulher que passou.  O que não sei se será o caso, aliás. Apontei isto, apenas como exemplo dos empresários de sucesso que germinam por aí.  

Voltando ao tema. Ora, se acredito que alguns expressem o apoio de forma desinteressada (por convicção, até), outros, cheira-me a esturro. Será que são o resultado de negociatas pouco transparentes, sei lá, ajustes directos, subsídios encapotados, licenciamentos ilícitos, favorecimentos indevidos? 
Então nesse caso, a frase de apoio devia ser: ao grande autarca que nos tornou mais gordos a nação agradecida. É que a outra, além de não dizer rigorosamente nada, presta-se a jogos de palavras que podem tornar-se incómodos: Vizela não pode parar… de  se endividar? …de se afundar? …de empobrecer?
Ao menos, com Francisco Ferreira era para continuar a crescer. Infelizmente, também se viu no que isso deu… 

Estou a divagar. Volto ao assunto.

Dirão que se trata apenas de mensagens de apoio. Mas, pergunto eu, então porque não dão voz ao cidadão comum, ao anónimo que, no banco da praça, ocupa o tempo a olhar as pombas, ou na margem do rio, passa a tarde a dar banho à minhoca?  Serão do contra? Terão, devido à situação ou por força das circunstâncias, razão de queixa do autarca? É certo que ele se esqueceu de plantar as árvores de fruto na rua principal que sempre davam para um lanche de pobre– mas esqueceu tantas outras promessas.

Bem, em resumo: o site está bem arreado, é apelativo, é capaz de vender bem o produto. Contudo, há duas questões que quero colocar aos responsáveis. Uma, porque não convenceram o presidente do CCD a liderar a lista dos subsidio-dependentes reconhecidos? Outra, que faz um estrangeiro na galeria dos penhorados, um que se assina Salvatori no Facebook, e é italiano, com certeza, tantos são os erros de português e os pontapés na gramática que dá no uso da língua..?


Moral da história: Vizela é de todos… mas há que tempos que a melhor parte está reservada para o proveito de uns poucos.

5.8.13

Voltas e rodopios

Deixemos de lado a campanha política e os seus ilustres intérpretes, que outros assuntos se sobrepõem, quer cronologicamente quer na escala de valores. Hoje, além das festas da cidade que estão aí a estoirar, houve dois acontecimentos dignos de registo: o regresso da volta à Póvoa, e um outro que descreverei mais adiante.

A volta à Póvoa é o ressurgimento de uma antiga tradição, haverá quem lhe chame “ramirada”, da nossa terra. Ramiro Guimarães podia não ser um primor de organização, mas tinha boas ideias. Cada evento que patrocinava era certo, certinho que redundava em anarquia, trapalhada, polémica... muitas histórias e boa disposição. Fosse o passeio cicloturista à Póvoa ou a festa de S. João; ora faltava a meta ora não havia juízes, tanto sobravam taças como falhavam critérios, ou não apareciam as sardinhas ou se esquecia dos balões… Balanço final, rotundo fracasso, mas um mar de recordações .

O de hoje não sei se foi diferente (pena o site da RV ter encerrado para umas merecidas férias), mas, pelo que ouvi, um repórter tentou fazer de Ramiro na distribuição de prémios. Não conseguiu, claro. Ao imitador, as asneiras saem-lhe naturais e em catadupa, o Ramiro só falhava na organização.

Também hoje, vivi uma experiência traumática que me levou mesmo a duvidar da minha tendência solidária : ao passear no parque das termas senti o meu sapato envolto por algo mole e pegajoso. Não adivinham, claro, mas era cocó de cavalo. Dos que lá andam a dar voltinhas a 3 euros para ajudar três associações vizelenses. Valeu-me ser moderna e andar na moda senão nem o pezinho escapava; os altos saltos das socas salvaram-me a pele de um contacto de terceiro grau com o monte de excrementos. Sinceramente, não apreciei o acontecido. E aproveito para reclamar. Eu sei que é por uma boa causa, tanto a Airev como os Bombeiros, como a fanfarra Peixoto merecem ser apoiados e acarinhados como instituições de utilidade pública, mas os inocentes passeantes do parque não merecem levar nos pés a factura das contribuições. Os cavalinhos não têm culpa, têm necessidades fisiológicas que não podem conter. Há muitos humanos, de resto, que também não se inibem de as satisfazer onde calha. Mas alguém tem que limpar. Não devem estar à espera que sejam os cisnes ou os patos do lago a arrumar a casa.

Ao terminar, verifico que ao misturar no texto expressões como campanha política, ramiradas, excrementos e voltas a cavalo, esta crónica pode dar azo a mal-entendidos e a causar polémica. Eu não pretendi tecer comparações nem criar analogias. Nada disso. É certo que tudo acaba em estrume, mas a natureza dos equídeos nada tem a ver com o carácter dos políticos.

E já que estou com a mão na massa, aproveito para explicar porque é que este post é mais curto do que os anteriores. Aprendi num filme uma boa regra editorial:  no writing longer than an average person can read during an average crap.
Não traduzo para não ofender.


(Só não dedico esta crónica ao sr. Ramiro Guimarães, pessoa que eu estimo de verdade, porque ele merece mais do que este post...de merda)

1.8.13

“Vizela é de todos”… Será?

Devo confessar que não estive presente na festa de apresentação dos candidatos da coligação: ninguém teve a decência de me enviar convite. Dizem que foi concorrida, animada e colorida. Até aqui nada de novo, se tomarmos como referência as festas da cidade ou mesmo a Oculis Calidarum. Nós estamos habituados a isso tudo, fica é um bocadinho mais caro ao erário público.

E discursos como motivo de animação não me parece que fosse apreciar. Gostos…

Ora, como não gosto de falar de cor, fui ao PlanoClaro (João, o som está horrível, nem parece seu!…) investigar o assunto.  E fiquei esclarecida.

Nas palavras do candidato Miguel Lopes, esteve “muito mais gente…o dobro das pessoas de 2009…na Casa do Povo”. (Ó Miguel, não faça disso uma sondagem ou ainda acaba convencido de que vai dar uma abada à outra lista.)
Para mim, isso apenas demonstra que o departamento de marketing da Coligação se aperfeiçoou ao longos destes quatro anos. Ou se quiserem, que os candidatos pertencem a famílias numerosas, o tempo ajudou e havia mais gente a desfrutar as esplanadas.  
Mas isto sou eu a desdenhar - como já referi, não tive o prazer de assistir.

Pelas reportagens, concluo que, se no plano dos recursos humanos houve grandes novidades, no plano dos discursos a coisa esteve pobrezinha. Talvez a ausência do Machado explique muita coisa.

O candidato Miguel Lopes, a meu ver, falou muito mas disse pouco. Poucas promessas. E vagas.

Do social, nada disse. De jeito, pelo menos.

Da politica desportiva, prometeu… cortes nos apoios aos clubes. Já estou a ver o Faísca a ter que tomar conta do CCD, outra vez.

Falou numa rede de transportes públicos a ligar as freguesias do concelho. Aplaudo esta.

O maior ênfase dedicou-o à criação do parque industrial. Não sei se por se tratar de uma antiga reivindicação local ou por ser o recente motivo de protesto de um familiar seu. Como sou crédula, acredito nas boas intenções das pessoas.

Enfim, parodiando um controverso dirigente lá do partido, pareceu-me um discurso “classista”, sebastianista e conjuntural qb.

Para o fim deixei a razão que me levou a ter esta trabalheira toda: o discurso arrebatador, capaz de mobilizar o eleitorado feminino e até feminista (estes temas tocam-me fundo), da candidata à AM. Foi mais ou menos nestes termos que foi analisado e descrito pelas nossas jornalistas locais.

E deixem que lhes diga, senhoras, se aquilo foi um discurso feminista, eu vou ali e já venho. “A força do trabalho das mulheres que fizeram nas fábricas aquilo que Vizela é hoje”, deve ser uma nova versão de feminismo avant-garde: a libertação da mulher através do trabalho escravo.
E termina com esta metáfora, que eu considero uma pérola do feminismo do século V, quando se discutia se a mulher tinha alma: “…vós precisais… nós precisamos de um homem que tome conta de nós!” Muito bem! Numa terra onde ainda é preciso convencer muitos homens de que as mulheres são cidadãos de pleno direito, uma mensagem como esta atrairá, com certeza, muitos votos… machistas.

De uma coisa tive pena: que não tivessem os peixotos a abrilhantar a festa. As majoretes fazem um vistão e então os cavalos!… Deixe lá, se ganhar tem quatro anos para financiar outra fanfarra que possa animar as vossas actividades partidárias. É que fanfarras e ranchos nunca são demais. Ocupam muita gente e ficam sempre bem - dão uma aura de cultura a esta terra tão carente.

No fim de contas, até concordo que “Vizela é para todos”. Agora façam o favor de concordar comigo: a melhor parte fica sempre reservada para o proveito de alguns.


(Dedicado a uma amiga, que me serviu de inspiração) 


28.7.13

Miguel Lopes à frente da Câmara

Não, o nosso presidente ainda não abdicou, apesar da gestão desastrosa que aplicou ao município e do calamitoso estado das finanças municipais.


Não, o atual presidente não foi demitido, apesar da relação de forças nas reuniões da câmara se ter invertido.

Não, não se trata de mais uma sondagem do DDV ou do Ruptura Vizela – que a essas ninguém leva a sério

Pelo contrário, o meu título é actual, factual e verídico.

O candidato da coligação encontra-se, de facto, à frente da câmara - de costas para o edifício municipal e de frente para a praça do senhor Antunes, num outdoor de propaganda política.

E não é pouco, como atitude de desafio e de provocação. Dizem que ao presidente tem tirado anos de vida.

Logo agora que precisa de toda a concentração e engenho para resolver o assunto das listas. Decidir quem será o seu delfim, ocupando o numero 2 e quem ficará de trombas ao ser relegado para o último lugar do pódio. E ainda escolher os figurantes ( ou os figurões) para os lugares que se seguem. Aqui, tem sempre a ajuda do professor Faria ( o outro - o do Ruptura) que o tem assessorado, sugerindo nomes, elaborando listas, dando palpites como quem tira coelhos da cartola.

Numa pausa do sorteio do pimpampum com os nomes da Dora e do Vitor Hugo, o presidente ainda pensou recorrer ao pessoal, para que uma causa natural - um tractor desgovernado ou uma súbita rajada de vento - derrubasse acidentalmente aquele outdoor, que lhe ensombra a vista e lhe assombra os dias. Mas depois daquele episódio, ainda na anterior gerência, em que um deles foi às fuças ao vinagre, os homens andam pouco cooperantes… “Claro! …ainda mais agora que estão à aguardar para ver de que lado sopra o vento…”


E assim, dia após dia, é sempre a mesma rotina: quando o presidente sobe a rampa miram-se em ar de desafio. Um, com o esforço da passada e o ónus do passado a dificultar-lhe os movimentos – o outro, majestoso, sereno, reluzente, à espera, com o meio sorriso de gozo estampado na cara, como que a dizer: aproveita enquanto podes.


“Agora, só falta mesmo é chaparem a cara do renegado no outro cartaz, de frente para o meu  gabinete, para acabarem de moer a pouca paciência que me resta….”